terça-feira, 25 de agosto de 2009

Stones/Scorsese



The Rolling Stones - Shine a Light seria só mais um ordinário registro de banda ao vivo, se os envolvidos não fossem quem são. Os Stones entram com a excelência musical e o joie de vivre de quem não tem mais nada a provar. E o cineasta soma com seu amor pelas canções da banda (que freqüentemente aparecem nas trilhas sonoras de seus filmes) e sua boa mão de documentarista, atento a pequenos detalhes - acredite, você nunca percebeu a importância dos dentes de Mick Jagger para a música.
O filme/show ganha muito por não ter sido gravado em grandes locações, onde a banda está acostumada a se apresentar. No final de 2006, em meio à mega turnê A Bigger Bang, Scorsese conseguiu marcar duas apresentações no elegante Beacon Theater, em Nova York. Ali dentro, a superprodução tomou conta, com 20 câmeras espalhadas pelo lugar. Até a platéia de fãs da primeira fila foi escolhida a dedo, cada um recebendo cachê de 75 dólares pela presença.
Mas tudo são detalhes, perto do repertório registrado. A escolha do setlist faz parte do momento cômico do filme. Jagger enrolou Scorsese até o último momento: o diretor só ficou sabendo quais músicas seriam tocadas quando a banda abria a introdução de "Jumpin' Jack Flash" (nesse ponto, já estava arrancando as sobrancelhas de nervoso). No final das contas, a lista deu preferência aos grandes clássicos dos Stones. As músicas mais recentes são de Tattoo You, álbum de 1981.
Os convidados especiais incluem Christina Aguilera, surpreendentemente boa em "Live With Me" (mesmo que Keith Richards tenha declarado depois que não sabe até hoje quem é aquela mulher que invadiu o palco), Jack White (feliz feito criança, em "Loving Cup") e Buddy Guy (ponto alto, com "Champagne & Reefer", de Muddy Waters). Richards é um espetáculo à parte no meio da apresentação, assumindo o vocal blueseiro e chapado de "You Got the Silver" e "Connection".
Claro que, por melhores que sejam a banda e as músicas, assistir a um show sentado no cinema tem um quê de chatice. Daí vem a esperteza de Scorsese, que incluiu imagens antigas da banda ao redor do mundo, a maior parte em entrevistas dos anos 60/70, para quebrar o ritmo e traçar um histórico curioso do fenômeno Rolling Stones.
Entre os riffs de Keith Richards e Ronnie Wood, um sorriso mal-humorado de Charlie Watts para a câmera e as requebradas de Mick Jagger, Shine a Light é um registro superior da velha carreira dos britânicos. E ajuda a provar que esses quatro não são os homens mais importantes do mundo à toa. Só olhar para Bill Clinton (o ex-homem quase mais importante), salivando ao lado deles nos bastidores, para se ter certeza. Sorte nossa que eles devem durar, pelo menos, mais uns dez anos.

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